Santa Quitéria

Nascimento e Infância
      Nasceu Santa Quitéria na cidade de Braga, Portugal, no ano 120.
      Seus pais – Lúcio Caio Atílio Severo e D. Cálcia Lúcia – eram descendentes de famílias nobres, mas pagãos. O pai era Governador da Província de Braga, pertencente ao Império Romano, e que abrangia parte da Lusitânia e parte da Galiza.
Imagem de Santa Quitéria, Braga - Portugal

      Nasceu a menina quando o pai acompanhava o imperador Adriano, que andava em viagem pela península. Do mesmo parto nasceram mais oito meninas. Esta circunstância tem levado certos espíritos superficiais a considerarem lendária a existência de Santa Quitéria e de suas irmãs. Carece, por isso, de reflexão.
      D. Rodrigo da Cunha, Arcebispo de Braga, refere na sua “História Eclesiástica dos Arcebispos de Braga”, publicada em 1634, que uma mulher alemã, residente na Itália, tivera dum parto 10 filhos e doutro 11, e que uma mulher da Suécia dera à luz 12 crianças duma só vez. Em 12/06/1971, na Maternidade Real de Sydney, a australiana Geraldine Mary Brodrik, de 29 anos, deu à luz 9 crianças – 6 rapazes e 3 meninas – em condições normais. Este último caso foi largamente divulgado pelos órgãos de informação.
Sendo assim, não custa nada crer que o nascimento de Santa Quitéria, de um parto de 9 gêmeas, fosse natural, embora extraordinário. Depois de relatar o parto das 9 gêmeas, D. Rodrigo da Cunha acrescenta: - “Tudo o que se lhe opõe de fabuloso é sem fundamento, e só com o fim de negarem o que, em boa filosofia, se não pode contradizer”.
      A mãe de Santa Quitéria, essa, como era pagã, alarmou-se com o nascimento de 9 filhas, até ao ponto de o considerar agoirento!...
      Julgando incorrer na indignação do marido, logo concedeu o plano de as mandar matar. O instinto materno, mesmo nos animais, tende a proteger a vida dos filhos. Mas, neste caso, o fanatismo idolátrico venceu as tendências da natureza.
      Industriou a criada Cita, que era cristã, a que divulgasse a notícia de que fora infeliz no parto, e, pela calada da noite, fosse afogar as 9 meninas no Rio Este, que passa nos arredores de Braga. Imitava o plano diabólico de Herodes, que mandou matar os meninos de menos de dois anos, para incluir Jesus. Mas, na ímpia Raquel, de Braga, não havia sensibilidade para chorar a morte das suas próprias filhas!
      Valeram-lhes, felizmente, os elevados sentimentos cristãos de Cita. Cumpriu a ordem recebida retirando de casa as meninas, não para as afogar nas águas do Rio Este, mas lhe purificar a alma nas águas do batismo. Procurou o Arcebispo de Braga, Santo Ovídio, que as batizou com os nomes de Quitéria, Genebra, Vitória, Marinha, Marciana, Germana, Basília, Liberata e Eufêmia.
      O pároco que batizou S. Luís de Gonzada, ao lavrar-lhe o assento, acrescentou ao nome estas palavras proféticas: - “Que seja feliz, caro a Deus, e que viva eternamente para o bem dos homem”. Idênticas palavras poderia Santo Ovídio ter acrescentado no assento de batismo daquelas 9 irmãs. Se as não acrescentou, formulou com certeza os mesmos votos...
      Conhecedor da tragédia que estivera prestes a desabar sobre aquelas inocentes crianças, prontificou-se o generoso Arcebispo a protegê-las pagando todas as despesas com a sua alimentação e educação. Cita procurou nos arredores de Braga famílias cristãs que as receberam. Não foi difícil encontrá-las, porque o caso era de molde a despertar acrisolada ternura.
      Com a idade, souberam do perigo a que estiveram expostas, para o corpo e para a alma, da bárbara determinação da mãe, e da maneira como foram salvas da morte e iniciadas na vida cristã pelo batismo. Em ação de graças por tantos e tais benefícios e desejosas de se aperfeiçoarem cada vez mais na piedade, resolveram viver em comum. Depois de obterem para isso autorização de Santo Ovídio, recolheram-se numa casa nos arrabaldes de Braga, onde viveram 10 anos. A natureza não lhes dera mãe educadora; mas a Providência tinha-lhes deparado almas boas, inspiradas pela doutrina cristã, que as prepararam para a vida.
      Rapidamente se tornaram conhecidos o fervor, a piedade, a obediência mútua, a alegria e a caridade fraterna das 9 donzelas cristãs, que encantavam e despertavam a admiração de quantos as conheciam. Daquele pequenino convento, como de canteiro florido, exalava-se forte perfume de pureza, de recato e de santidade.
      Mas não duraria muito aquela tranqüilidade, que causava talvez inveja aos anjos. Aproximava-se já, sem elas o suspeitarem, o segundo e último ato do drama da sua vida.

Perseguição e Martírio
      Para compreendermos a vida e o martírio de Santa Quitéria, precisamos recordar a situação da Igreja naquela época.
      O Império Romano moveu contra os cristãos dez perseguições, que abrangem um período de 250 anos. Em 19 de Julho do ano 64, um violento incêndio reduziu a cinzas mais da metade da cidade de Roma. As suspeitas do povo recaíram sobre o imperador Nero, mas ele, por sua vez, atribuiu o crime aos cristãos e fez-los sofrer as mais horríveis torturas. Padeceu então o martírio “inumerável multidão de cristãos”, entre os quais S. Pedro e S. Paulo – os dois primeiros apóstolos do Evangelho na capital do Império. A profissão de cristão era considerada crime legal.
      Depois de um período de certa tranqüilidade durante os reinados de Vespasiano e Tito, os cristãos foram de novo perseguidos pelos imperadores Domiciano, Trajano e Adriano. Este, que reinou do ano 117 a 138, a princípio foi favorável aos cristãos. Depois, mudou de conduta e renovou as mais severas medidas de perseguição em todo o Império. A vida de Santa Quitéria decorreu durante o seu reinado.
      Para dar execução às determinações superiores, Atílio ordenou que fossem presos os cristãos encontrados na Província de Braga. Os executores das suas ordens, tendo conhecimento daquelas virgens cristãs, prenderam-nas e levaram-nas, algemadas, à presença do Governador, que nessa altura se encontrava em Tuy (Espanha).
      Não as reconheceu por filhas, pois ignorava tudo que se havia passado, mas ficou vivamente impressionado com a sua vivacidade, modéstia e formosura. Interrogou-as acerca da sua naturalidade, filiação, idade e religião que professavam.
      Em nome de todas, respondeu Santa Genebra, com serenidade e desassombro: “Somos naturais de Braga, somos vossas filhas, adoramos a Jesus Cristo, único Deus verdadeiro, e estamos resolvidas a tudo sofrer por Ele”. Depois de narrar as principais circunstâncias da sua vida, concluiu: - “Estamos dispostas a obedecer antes a Deus que aos homens”.
      Profundamente assombrado, Atílio quis ficar só com as filhas, a esposa e a criada Cita. Depois de inquirir mais alguns pormenores sobre o que se havia passado com o nascimento das filhas, tanto ele como a mãe cobrem-nas de carícias e beijos. Recordam-lhes a antiga nobreza de família, abrem-lhes, em promessas fagueiras, as mais amplas perspectivas de felicidade, falam-lhes em casamentos com rapazes ricos e nobres, se renunciarem à fé cristã e prestarem culto aos ídolos do Império Romano.
      Atílio era severo no nome e nas atitudes. Indignado e furioso, por ouvir as mesmas afirmações de firmeza inabalável na fé cristã, passa das promessas às ameaças, mesmo à ameaça de morte, se elas se recusarem a prestar culto aos deuses. Agora, ficam elas sós, no salão nobre do palácio convertido em tribunal, para refletirem. Em fervorosa oração, pedem ao Senhor que lhes dê coragem para detestarem as propostas do pai, que contrariavam a vontade de Deus, e lhes indique o caminho a seguir.
      Subitamente, enche-se de luz o salão e aparece um anjo que as conforta naquela tribulação e as aconselha, da parte de Deus, a fugirem do palácio. Despedem-se à pressa, com a promessa mútua de viverem e morrerem defendendo a fé cristã em que foram educadas.
      Logo que Atílio volta ao salão e dá pela falta das filhas, manda emissários à sua procura, com ordens terminantes para que as reconduzam à sua presença. Só encontraram Santa Quitéria, que fugia acompanhada por outras donzelas cristãs.
      As irmãs dispersaram-se e todas deram testemunho da fé. Santa Morinha foi degolada em Orense, Espanha, com 18 anos. É padroeira de muitas freguesias. Santa Vitória foi martirizada em Córdova, Espanha, também com 18 anos. Santa Genebra sofreu o martírio na cidade de Tuy, Espanha, com 16 anos. Santa Liberata e Santa Germana padeceram o martírio em local que se ignora. Santa Eufêmia foi degolada na Serra do Gerez, onde é titular da capela pública daquela estância termal, conservando-se as suas relíquias na Catedral de Orense. Santa Marciana foi martirizada na cidade de Toledo, Espanha, com 35 anos. Santa Basília sofreu o martírio provavelmente em Águas Santas, Porto. A piedade cristã tem-lhes prestado veneração. A condessa Mumadona Dias, viúva do Conde Hermenegildo Gonçalves e aparentada com os reis de Leão, mandou guardar relíquias de Santa Basília e de Santa Vitória no mosteiro que fundara em Guimarães. No Igreja do Seminário Maior do Porto e na capela do Castelo de Póvoa de Lanhoso, existem grupos escultóricos das 9 irmãs.
      Quando fugia acompanhada por outras donzelas cristãs, como dissemos, Santa Quitéria foi pressa e conduzida ao palácio do pai, que, de novo, tentou levá-la a desistir dos propósitos de professor a fé cristã. Deu-lhe alguns dias para pensar, durante os quais ela ia com freqüência fazer oração ao Outeiro de Montariol, que ficava na quinta do Governador.
      Certo dia, o pai dá-lhe a notícia de que a tinha prometido em casamento a um rapaz nobre e rico, mas também pagão, chamado Germano, que a faria feliz. Surpreendida com tal proposta, pediu ao pai algum tempo para resolver e suplicou ao Senhor que lhe inspirasse a resolução a tomar. O anjo da guarda aconselhou-a a retirar-se para o Monte Pombeiro, perto da atual cidade de Felgueiras. Naquele tempo, existia ali uma cidade chamada Eufrásia, que foi destruída nas invasões dos Mouros, e da qual destruída nas invasões dos Mouros, e da qual era Governador Lenciano, também perseguidor dos cristãos. No cimo do monte, havia uma capela dedicada a S. Pedro.
      Santa Quitéria reuniu a si 38 donzelas cristãs, e ficaram a viver todas em comunidade, de vida exemplar. Na sua fúria perseguidora Lenciano mandou-as prender, privando-as de qualquer alimento durante três dias e cercando de guardas a prisão para evitar a sua fuga.
Um anjo conforta-as, os guardas convertem-se devido à instrução religiosa que recebem delas, e muitos doentes obtêm a cura dos seus males.
      Lenciano, ardendo em ódio, vai a prisão, de espada desembainhada, disposto a matá-las. Quer levar Santa Quitéria para seu palácio, mas ela recusa-se a acompanhá-lo.
      Informado de tudo que se passava, Atílio enviou ao Monte Pombeiro emissários que intimaram Santa Quitéria a aceitar Germano. Mas a sua decisão estava tomada com inabalável firmeza: era esposa mística de Cristo, a Quem consagrara a sua vida. Perante a recusa formal, ordena que Germano reúna soldados que o acompanhem, com ordem de a matar. Chegaram de noite ao monte, cercaram-no, e, ao amanhecer, o próprio Germano decepou-lhe a cabeça.
      Deu-se o seu martírio a 22 de maio do ano 135. Tinha 15 anos.
      O algoz e os soldados que o acompanhavam ficaram cegos.
      As donzelas da sua comunidade e mais alguns cristãos, entre os quais se contava Lenciano, convertido à fé, foram martirizados também naquele monte e sepultados junto da Capela de S. Pedra.
      Diz a tradição que no local do martírio rebentara uma fonte, ainda hoje chamada Fonte de Santa Quitéria, símbolo das graças que ela viria a distribuir pelos seus devotos.
      É a primeira mártir em terra que depois se tornou portuguesa.

O seu culto
      Os santos não morrem. O túmulo que guarda os seus despojos converte-se em berço da sua glória. Assim aconteceu com Santa Quitéria. Como o seu Martírio decorreu em circunstâncias de ferocidade e raiva, começou a ser invocada principalmente para acudir às pessoas mordidas por animais danados. Esta devoção espalhou-se rapidamente.
      Em janeiro de 1715, uma mulher de Lamaçães, Braga, condenada a morrer dentro de poucos dias devido a um cancro no peito, recorreu a Santa Quitéria e sentiu-se completamente curada. Assim o atesta o Pároco de Margaride (Felgueiras), Pe. Luís Pereira da Cunha, a quem ela foi pedir que celebrasse uma missa em ação de graças na referida Capela de S. Pedro. Este fato iniciou um forte movimento de veneração a Santa Quitéria, que veio a concretizar-se com várias obras no Monte Pombeiro, agora denominado Monte de Santa Quitéria. Inúmeros devotos visitam o seu túmulo, para pedirem a sua proteção ou agradecerem benefícios recebidos.
      Em setembro de 1716, foi solenemente colocada a sua imagem na Capela de S. Pedro, por iniciativa e em ação de graças do Dr. Paulo Marinho, de Borda da Montanha.
Verificando que a capela de S. Pedro era pequena para receber tantos romeiros, uma nova capela foi construída em 1934 (atual Santuário de Santa Quitéria). É um templo oitavado, em estilo romano, airoso e solidamente construído.
      Lá se encontram, além de outras, as imagens das nove irmãs, de Santo Ovídio, de Santa Cita, que também foi martirizada, e de Nossa Senhora das Graças. A festa de santa Quitéria celebra-se a 22 de maior, aniversário do seu martírio.

Fonte: Vida de Santa Quitéria; escrito por Pe. Pinho Nunes; Edição da casa da Confraria, 2002; Braga - Portugal. (texto adaptado)

Imagem de Santa Quitéria na Vila do Espírito Santo, São Bento do Una

Oração a Santa Quitéria

  • Para pedir

“Senhora”, Santa Quitéria, que fostes Virgem e Mártir, esposa santa de Jesus, tenho devoção por ti porque a tua santidade é exemplo para mim e me dá a confiança de te pedir esta graça..., que me trouxe ao Santuário dedicado ao teu nome.
“Senhora”, Santa Quitéria, Roga por nós.
Porque tu, Santa Quitéria, só em Deus tens o poder, eu vou rezar a Jesus que está vivo no sacrário e é caminho de Deus Pai. Foi Jesus que a todos disse: Pedi e recebereis, vinde todos ter comigo, todos vós os que sofreis.
Amém.

  • Para agradecer

“Senhora”, Santa Quitéria, que fostes Virgem e Mártir, esposa santa de Jesus, de ti recebi a graça que pedi com confiança. Aqui venho agradecer e cumprir minha promessa. Quero ser fiel a Deus, como tu, ó Santa Virgem, que morreste por Jesus.
“Senhora”, Santa Quitéria, Roga por nós.
Porque tu, Santa Quitéria, só em Deus tens o poder, eu vou rezar a Jesus que está vivo n o sacrário e é caminho de Deus Pai.
Obrigado, minha Santa!
Obrigado Bom Jesus!
Amém.

Hino de Santa Quitéria

1. Salve ó Virgem gloriosa
Do martírio defensora
Salve ó Santa Milagrosa
De nossa alma defensora

Quitéria Santa, Mártir do Senhor,
Nossa alma canta hino de louvor (bis)

2. Salve ó Quitéria pura
Virgem Mártir do Senhor
Tem a salvação segura
Quem confia em vosso amor

3. De Joelhos nos prostamos
Com fervor e humildade
Vossa bênçãos vos rogamos
Pra nossa felicidade

Santa Quitéria é a Padroeira da Comunidade Vila do Espírito Santo. Paróquia de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

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